Moda e Fotografia

Moda e Fotografia da Budapeste Comunista

Moda para a Classe Trabalhadora

Ao virar do século XX, Budapeste era uma metrópolis colorida, marcada por sua grandiosa arquitetura histórica e vibrante cena social. Após a Primeira Guerra Mundial, o Império Austro-Húngaro se desintegrou e a Hungria perdeu dois terços de seu território, por ter se unido ao lado perdedor na guerra. Apesar disso, o país continuou crescendo e se desenvolvendo, entre as duas guerras. Durante esse período, a arquitetura romântica de Budapeste foi enriquecida com prédios Art Nouveau, como o Spa Termal Gellért assim como os estilos Bauhaus Art Deco, como a sala de controles da Usina de Kelenföld.

Ao virar do século XX, Budapeste era uma metrópolis colorida, marcada por sua grandiosa arquitetura histórica e vibrante cena social. Após a Primeira Guerra Mundial, o Império Austro-Húngaro se desintegrou e a Hungria perdeu dois terços de seu território, por ter se unido ao lado perdedor na guerra. Apesar disso, o país continuou crescendo e se desenvolvendo, entre as duas guerras. Durante esse período, a arquitetura romântica de Budapeste foi enriquecida com prédios Art Nouveau, como o Spa Termal Gellért assim como os estilos Bauhaus Art Deco, como a sala de controles da Usina de Kelenföld.

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A sala de controle da usina elétrica de Kelenföld no estilo Art Deco. Foto: Kozelka Tivadar © Magyar Építészet Múzeum

A glória cosmopolita bem típica da Hungria durante as primeiras décadas do século XX, chegou ao fim com o começo da Segunda Guerra. O país, que havia se tornado um campo de batalha, foi primeiro ocupado pelos alemães, e depois pelos russos. Budapeste sofreu muitos bombardeios que destruíram consideravelmente grande parte da cidade. Ainda por cima, todas as pontes da capital foram explodidas.


Após a Segunda Guerra Mundial, a Hungria fez parte do Bloco Soviético até 1989. Durante a era comunista, o país que antes abria suas portas para o mundo, ficou quase completamente isolado do Ocidente, e a vida dinâmica, típica de Budapeste, desapareceu por muito tempo.

Vista panorâmica de Budapeste com a ponte das Correntes a partir do Castelo de Buda, 1945Foto: FORTEPAN / cortesia do Museu Militar do Sul da Nova Inglaterra

De acordo com os princípios comunistas, o livre comércio e a livre concorrência deixaram de existir a partir dos anos 50. Quase todas as indústrias, incluindo fotografia, jornalismo e moda, passaram a ser controladas pelo Estado, sofrendo uma censura rígida. Por exemplo, para decidir se o trabalho dos artistas seria aprovado ou proibido, era usado como método de avaliação  o sistema de 3 T: Tiltott, Tűrt, Támogatott, que corresponde a  Proibido, Tolerado, Apoiado.

Exibição para os operários do metrô, 1951Foto: Tibor Bass

Os fotógrafos eram forçados a escolher entre se submeter às normas do sistema, criando trabalhos de propaganda política   através de representações heróicas e glorificadas da classe trabalhadora, ou tentar lidar com tópicos neutros em seus trabalhos, evitando temas e verdades da vida real, e necessariamente escolhendo tópicos mais generalizados. Mais tarde, essas normas trariam a tona a análise da relação entre fotografia e realidade, que serviria como inspiração para muitos trabalhos artísticos.


Ao mesmo tempo, apesar da ditadura, os artistas conseguiram tirar proveito desse novo tipo de autonomia artística, uma vez que sem o mercado, não havia necessidade de agradar clientes ou galerias de arte.

Operários trabalhando no asfalto da Av. Andrassy, 1953 Foto: Béla Kálmán
Um casaco típico da Hungria dos anos 50Foto: Divatújság, outono 1951. Página 2.

Do mesmo modo, o mundo da moda era controlado pela liderança do Estado centralizado, e foi profundamente afetado pelo isolamento internacional. Durante os anos 50, os salões de moda e costureiros seguiam padrões nacionais, e a moda era determinada por um órgão central, o Instituto de Moda da Hungria, de acordo com objetivos econômicos ligados à indústria têxtil, e conforme orientações políticas.


Durante os anos que sucederam à Segunda Guerra, sob um sistema que apoiava a uniformidade e igualdade, o estilo elegante e sofisticado se tornou, de certo modo, o “contra-regime”. As roupas não cumpriam mais o papel de fantasias fashion exibidas em manequins, e passaram a ser apenas peças simples e práticas, feitas com tecidos baratos, e vestidas por jovens (em sua maior parte, membros da Organização Democrática das Mulheres da Hungria) que trabalhavam sob o clima de emancipação forçada.

Anúncio de vestimenta “prêt-à-porter” em Budapest, 1957 Foto: FORTEPAN /Cortesia da UVATERV

Espíritos Rebeldes - Rebelião Contra o Conformismo

A partir de 1968, principalmente devido ao impacto da Primavera de Praga, a ditadura comunista começou a afrouxar e enfraquecer consideravelmente. Desde os anos 60, a uniformidade obrigatória e a severidade começaram a perder sua importância. Assuntos, como o feminismo e a individualidade, não eram mais considerados questões políticas. Apesar dos armazéns de moda  ainda venderem somente roupas feitas conforme as tendências determinadas pelo órgão central, nas próximas décadas, mais e mais pessoas ganharam acesso a tecidos do Ocidente (principalmente através do contrabando) que usavam para criar roupas estilosas conforme os padrões da Burda e outras revistas de moda, também contrabandeadas do exterior.

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Graças ao clima de avanço econômico desse período, novos prédios foram construídos pelo país inteiro com elementos de design moderno, refletindo as ambições social modernistas da época. Assim, hoje podemos dizer que a Hungria é uma “fonte de relíquias retrô”. Um dos exemplos mais fascinantes da arquitetura modernista da Hungria é o prédio do Hotel Ezüstpart.

Edifícios de estilo modernista no centro de Budapeste, 1975Foto: FORTEPAN / cortesia de Balázs Lajos
Protótipo de ônibus Ikarus em frente ao prédio em estilo modernista do Hotel Hungaria, 1970Foto: FORTEPAN

Com o enfraquecimento das regulações políticas, o isolamento do país diminui substancialmente durante os anos 70 e 80. Mais pessoas podiam viajar para o exterior com maior frenquência, fazendo com que as tendências globais chegassem com maior facilidade ao país. Mini saias, calças bocas de sino e estilos hippie finalmente estavam na moda na Hungria.


Ao mesmo tempo,  nesse clima mais aberto, a nova geração que nasceu após a guerra emergiu e trouxe rebelião e novas tendências, afetando o campo da arte e da moda. Durante os anos 70, um forte movimento de nova vanguarda começou  a evoluir através de exibições ilegais. Dóra Maurer foi uma representante importante desse movimento, e tornou-se mundialmente conhecida por seu trabalho experimental com fotografia e filme. Hoje, suas obras estão exibidas no mundo inteiro, em lugares como o MoMA em Nova York, e o Albertina em Viena.


Outro grande artista desse movimento de nova vanguarda foi Tamás Szentjóby, que introduziu os estilos artísticos fluxus e happening para o público húngaro. Ele foi banido do país, mais tarde,  porque seu trabalho portestava abertamente contra o regime político, e por causa de sua participação no movimento samizdat (publicação clandestina).


No dia de celebração da saída das tropas soviéticas da Hungria, como um de seus projetos mais empolgantes e provocadores, Szentjóbi cobriu a Estátua da Liberdade - um dos marcos mais emblemáticos da Vista Panorâmica de Budapeste no topo do Monte Gellért - com um paraquedas de seda, criando um “fantasma” que parecia flutuar sobre a cidade, como se fosse o passado voltando para assombrá-la.

Em 1991 o artista Tamás Szentjóby transformou a Estátua da Liberdade em Budapeste, em um fantasma gigante que representava as agruras do passado comunista da Hungria. Ele cobriu a estátua com um enorme tecido usado na fabricação de para-quedas Foto: Magyar Narancs

Nos anos 80 e 90, essas tendências a rebeldia começaram a dar suas caras e chocar o mundo da moda. Quando se tratava de questionar as normas da sociedade através da moda, Tamás Király era o designer mais notável.

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Tamás Király, designer de moda, 1988Foto: FORTEPAN / cortesia de Tamás Urbán

Király combinou desfiles de moda que testavam os limites do gênero com artes cênicas, desenvolvendo o gênero do teatro fashion. Além disso, ele não trabalhava com modelos e contratava mulheres mais gordinhas, homens tatuados, e pessoas com síndrome de Down para os seus desfiles.


Király foi bastante reconhecido e estimado pela indústria mundial da moda. Ele fazia desfiles junto com Vivienne Westwood e Yoshiki Hishinuma, e após seu desfile em Berlim, em 1988, a revista Stern o nomeou o “papa da moda”. Seu trabalho foi publicado tanto na Vogue, como na revista i-D.

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